VAlle colchagua

Sentei-me a meio da escada, encostada à parede. Se olhasse para cima, à direita, podia ver a arca do enxoval cheia de colchas, toalhas e lençóis bordados pelas minhas prendadas mãos. Se olhasse em frente, através da janela, podia ver o pessegueiro cuja fruta, as minhas mãos fortes, colheram há menos de dois meses. Se me inclinasse ligeiramente para a frente e para a esquerda conseguiria ver, lá ao fundo, a roupa estendida pelas minhas zelosas mãos, e por trás, os cepos traçados e alinhados pelas minhas mãos gretadas. Mas como não consigo tirar os olhos das minhas mãos, não vejo nada disto. Penso apenas nas eventuais capacidades destas mãos. Miro-lhes as palmas e miro-lhes as costas, as unhas. Abro e fecho os dedos. Dou especial atenção aos polegares. Que aptidões escondidas terão ainda as minhas mãos?